Comentário: Cenário Semanal
CENÁRIO SEMANAL: AGENDA ESQUENTA E PETRÓLEO CONTINUA PRESSIONADO
Marcelo de Faro
Intra/MFI Financial Markets
O preço do barril de petróleo continua pressionado pela intensificação do conflito envolvendo Líbano, Israel e o grupo terrorista Hezbollah e a agenda de indicadores financeiros esquenta nesta semana. Esses dois fatos
podem adicionar uma dose a mais de volatilidade ao mercado financeiro. Aqui no Brasil, os assuntos principais são a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e a economia norte-americana. Nos Estados Unidos, as atenções se voltam à ata da última reunião do FOMC, aos indicadores de inflação e de atividade e ao depoimento do Ben Bernanke ao Comitê de Bancos do Senado.
Para alguns analistas, a nova disparada do preço do petróleo não significa apenas uma dose a mais de preocupação, mas teria se tornado o assunto mais relevante. Eles argumentam que os indicadores correntes de inflação desta semana (PPI na terça-feira e CPI na quarta) são relativos a junho e que a nova disparada do
barril pode acelerar o processo de desaquecimento econômico norte-americano ao direcionar boa parte da renda aos postos de combustíveis.
Essa seria uma boa explicação para a queda das expectativas de um novo aumento na taxa básica de juros dos Estados Unidos no início de agosto. Desde o início do conflito, na última quarta-feira, as chances de um
novo aperto monetário caíram de 63% para 53% - conforme apontam os contratos futuros de fed funds -, mesmo com a alta da cotação do barril de petróleo. A nova "meta" de US$ 80 não é alvo apenas de especuladores. Alguns, mais pessimistas, apostam em US$ 100, ainda mais em uma semana onde os contratos mais curtos e líquidos serão liquidados.
Outros analistas, no entanto, estão menos assustados com a nova disparada da commodity. Eles argumentam que as indústrias norte-americanas continuarão absorvendo uma boa dose do aumento de custos, não apenas pela produtividade ainda elevada, mas também pelo desaquecimento econômico global esperado e pela intensificação da competição chinesa. Esse cenário seria aliado ao fato de o setor industrial já ter embutido nas expectativas uma cotação do barril oscilando entre US$ 65 e US$ 75, com média de US$ 70, para os próximos dois anos.
Norteados pelos últimos indicativos do FOMC, boa parte dos analistas acredita que os indicadores de inflação
deixaram de ser as grandes variáveis para a política monetária dos Estados Unidos. Por esse motivo, acreditam que o CPI, salvo se ficar acima do esperado, de 0,2% em junho tanto para o índice cheio quanto para o núcleo, não deve adicionar nervosismo aos negócios. Pela média móvel trimestral, essa perspectiva resultaria numa taxa anualizada de 3,19%, mesmo patamar de abril - em maio, o indicador ficou em 3,79%. Nesta linha de raciocínio, o PPI não deveria causar frisson. A expectativa média para o indicador é de 0,3% para o índice cheio e de 0,2% para o núcleo.
Curiosamente, Bernanke discursa na quinta, mesmo dia da divulgação da ata do Fomc. Curiosamente, também, o presidente do Federal Reserve tem conseguido aumentar ainda mais a volatilidade dos mercados. Uns acreditam que é porque ele não sabe conduzir expectativas. Outros porque ele está tentando dar uma dose a mais de transparência na condução da política monetária e ele mesmo não saberia até onde vai o desaquecimento e até quando a inflação ainda terá fôlego. De qualquer forma, toda a cautela é pouca na quinta-feira.
Para a reunião do Copom brasileiro, o serviço AE-Projeções da Agência Estado entrevistou 61 analistas e apurou que 57 deles apostam em corte de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic. Esse grupo argumenta que qualquer outra decisão colocaria por terra toda a filosofia do regime de metas diante do cenário benigno de inflação para o próximo ano. Os que apostam num corte menor ressaltam que as projeções do IPCA de 2007 estão no centro e não abaixo da meta do próximo ano por 47 semanas seguidas, segundo a pesquisa Focus. (Neusa Ramos, com Francisco Carlos de Assis e Célia Froufe, do AE Projeções)
Petróleo
Analistas esperam que os preços ampliem o movimento de alta para território recorde.
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