quarta-feira, 14 de junho de 2006

Artigo: "Tensão externa eleva risco, dólar e juros" (trechos)

Tensão externa eleva risco, dólar e juros
Luiz Sérgioi Guimarães
Valor Econômico
14/06/2006

...Por que será que o Brasil, dispondo de uma sólida posição em seu balanço de pagamentos, com elevados superávits comerciais e nas contas correntes, e um estoque de reservas internacionais em torno de duas vezes as amortizações de dívida externa de um ano, após um choque externo moderado, que elevou apenas ligeiramente a aversão ao risco, sofreu um forte aumento de volatilidade na taxa cambial, nos prêmios de risco sobre os títulos de dívida soberana e nas taxas de juros mais longas? Esta pergunta é feita em relatório da consultoria AC Pastore, do ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore. Há duas razões para isto, segundo o estudo. A primeira, menos relevante, vem de vários sinais conflitantes emitidos pelo Ministério da Fazenda nos campos da política fiscal e da taxa cambial. A segunda vem das mudanças realizadas na administração da dívida pública, combinando o aumento da venda de títulos públicos a estrangeiros com o seu alongamento. "Ambas amplificaram, no Brasil, os efeitos negativos da mudança nas perspectivas da liquidez internacional, mas a segunda é a causa predominante", diz o estudo. A amplificação do choque externo decorreu da necessidade dos fundos estrangeiros que compraram títulos longos, sobretudo as NTN-B, de evitar perdas decorrentes das altas do dólar e das taxas de juros longas...

Artigo: "Antes do topo, o poço"

Antes do topo, o poço
Por Adriana Cotias e Daniele Camba
Valor Econômico
13/06/2006

Está escrito nos gráficos: antes de o Índice Bovespa (Ibovespa) retomar a tendência de alta de longo prazo, o indicador pode ceder a níveis mais profundos. Os analistas técnicos - também conhecidos como grafistas, e que se fiam em leituras estatísticas sem dar a menor bola para os chamados fundamentos - identificam correções que podem jogar o índice para níveis entre 28 mil e 32 mil pontos, sendo que a maioria, por ora, ainda trabalha com a ponta mais alta. Só depois de chegar a esses níveis é que o índice poderia caminhar para os 42 mil pontos alcançados durante o pregão de 9 de maio. Mas a correção para baixo pode durar 12 meses.

Ontem, após uma queda de 4,33%, o Ibovespa encerrou o pregão com 33.554 pontos, uma desvalorização que já chega a 20,1% desde o pico do início de maio. No ano, o índice ainda acumula alta de 0,3%. A má notícia, segundo os adeptos da escola técnica, é que o tombo não vai parar por aí. Ao romper a marca dos 34 mil pontos, o indicador voltou ao nível que marcava a tendência de alta iniciada em maio de 2004, diz Fausto de Arruda Botelho, um dos precursores da análise técnica no Brasil e sócio da Enfoque Informações Financeiras. "Se o mercado continuar como está, os preços caminharão para correções mais acentuadas até os 28 mil pontos."

Por trás da arte dos gráficos está, entre outras tantas, uma teoria chamada de "seqüências de Fibonatti", que diz que tudo na natureza tem padrões de comportamento que se repetem, obedecendo certas freqüências matemáticas. Os analistas técnicos identificam tais freqüências nos movimentos da bolsa e ao observar o passado são capazes de projetar uma série de expectativas de preços futuros.

Daí saem termos como "resistência" (nível de preços em que pode haver pressão de venda), "suporte" (ponto que pode desencadear compras) ou os "canais de alta ou de baixa", formados entre duas retas paralelas, indicando bom momento para compra ou para venda. Analistas técnicos dizem que os gráficos dão pistas importantes também dos movimentos tanto dos fundamentalistas quanto de eventuais grupos com informações privilegiadas que se antecipam ao restante do mercado. Nem todos concordam com os grafistas, mas cada vez mais analistas fundamentalistas usam os gráficos como instrumento auxiliar.

Botelho exemplifica que semanas antes dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, os gráficos do índice Dow Jones davam claras indicações de fluxo vendedor. De alguma forma, o imponderável já começava a ser expresso nos preços das ações na Bolsa de Nova York. A hipótese mais plausível é de que ordens de venda ditadas pelo bilionário Osama Bin Laden e seus comandados já davam pistas do que ocorreria com os ativos nos mais diversos mercados.

Para o mercado brasileiro, a certeza é de que o tremor continuará vindo de fora, diz o analista técnico da Ágora Senior, Fernando Góes. "O Dow Jones também atingiu o seu ponto máximo quando encostou nos 11.700 pontos (em 10 de maio), o gráfico já configura um ombro-cabeça-ombro (uma figura de queda) e o Ibovespa tem feito exatamente os mesmos movimentos", diz. Para ele, o próximo ponto a ser testado pelo termômetro da bolsa local será os 32 mil pontos e se essa barreira for rompida, o novo poço será nos 29.500 pontos.

Desde 2002, o índice vinha de um movimento primário (de longo prazo) e secundário (de curto prazo) de alta e, por isso, é possível se imaginar um extenso período de baixa, prevê o chefe de análise da Planner Corretora Luiz Antonio Vaz das Neves. Para o especialista, após ceder abaixo dos 34.400 pontos, novas pressões de venda devem encaminhar o indicador para a casa dos 30 mil pontos. "Não é muito se lembrarmos que, há cerca de um ano, o Ibovespa estava nos 22 mil pontos." Após ter superado os 42 mil pontos, em 9 de maio, a bolsa brasileira entrou num período de baixa, que tem tudo para durar pelo menos um ano, diz Vaz das Neves.

"Depois de mais de três anos de alta, essa onda de correção de preços também será longa, bastante volátil e com movimentos acentuados, com dias de grandes altas, seguidos por quedas na mesma intensidade", alerta a analista gráfica da corretora Santander Banespa, Sílvia Afonso.

Dentro desse novo movimento de desvalorização, o Ibovespa caminha para os 32 mil pontos, estima a analista. Isso não significa, no entanto, que daqui pra frente as ações cairão sem parar pelo próximo ano inteiro. "O momento é de baixa, oscilando com dias de queda e outros de recuperação." O investidor que quiser aplicar em bolsa nesse meio tempo terá de redobrar a atenção para aproveitar os curtos períodos de alta. Apesar de a meta ser os 32 mil pontos, a analista projeta o Ibovespa entre 36 mil e 38 mil pontos no fim do ano. "Haverá pontos interessantes de compra."

Depois de o Ibovespa cair abaixo dos 35.500 pontos, no dia 7, os 32 mil pontos também se tornaram o novo prognóstico do gerente da corretora do HSBC Jeferson Amaral. "Esse é um ponto de resistência importante, foi exatamente nesse nível que o Ibovespa mudou de tendência em outubro e caiu até os 28.400 pontos, voltando aos 32 mil pontos só em dezembro."

As perspectivas para o mercado americano também são negativas, na visão dos grafistas, o que só reforça o caldo de más notícias para o Brasil. "Não dá para ignorar a enorme correlação entre a nossa bolsa e os principais mercados internacionais", afirma o gerente da HSBC Corretora. Recentemente, o Índice Dow Jones caiu abaixo dos 10.950 pontos, um nível de resistência importante, segundo Amaral, e agora deve buscar o próximo piso, em 10.750 pontos.

Mesmo olhando outro indicador, como o Standard and Poor's (S&P), as projeções de Sílvia, da corretora Santander Banespa apontam para o mesmo lado. O S&P está entrando num longo período de queda, bem maior que o do Ibovespa, e o próximo suporte será em 1.100 pontos, ou seja, ainda há muito o que cair em relação aos 1.200 pontos atuais.

No meio de tanta tristeza, a boa notícia é que este será apenas um movimento de correção e não de reversão da grande tendência de alta do Ibovespa, que começou em 1998, logo depois da crise da Rússia, e deve prosseguir pelo menos nos próximos dois anos. "Só depois disso é que podemos esperar uma reversão de tendência, que é quando a bolsa cai por quatro, cinco anos seguidos", diz Sílvia.