segunda-feira, 3 de julho de 2006

Artigo: "Decisão do Banco Central Americano Abre Caminho para Valorização de Ações"

Decisão do banco central americano abre caminho para valorização de ações
O GLOBO ONLINE - ECONOMIA
Aguinaldo Novo
SÃO PAULO
03/07/06

O mercado financeiro respirou aliviado na semana passada, depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deu sinais de que pode amenizar sua política monetária. Foi a senha para que as bolsas de valores voltassem a subir com força. Em São Paulo, o Ibovespa (que mede o desempenho das principais ações) teve alta de 4,74% na quinta-feira e de 0,39% na sexta-feira — suficientes para que a variação em junho passasse de -5,8% até a quarta-feira para uma alta de 0,27%.

Para analistas, se não afastou de vez o fantasma de novas turbulências, a decisão do Fed pode abrir caminho para a recuperação de preço de alguns papéis, que amargaram quedas recordes nas últimas semanas e agora oferecem boa relação entre custo e benefício.

— Todo o mundo acha que as bolsas só sobem, que o céu é o limite, e claro que não é assim. Toda alta tem um fim, mas também existe um recomeço — diz Alfried Plöger, presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).

Identificar as boas oportunidades não é uma tarefa fácil neste momento, e mesmo entre os especialistas não há consenso. O diretor da Modal Asset, Alexandre Póvoa, recomenda as ações de empresas cujo desempenho depende apenas do mercado doméstico. Estão nesse rol papéis dos setores de alimentação e bebidas e bancos, por exemplo. Para Póvoa, além de mais suscetíveis ao humor do mercado, os preços de ações de empresas de commodities poderiam demorar mais a se recuperar, no rastro de uma eventual desaceleração do nível de atividade nos EUA:

— O preço ficou atraente, mas pode cair ainda mais.

Quedas de quase 20% em setores da bolsa paulista

A mira do diretor de investimentos da Prosper Gestão, Júlio Martins, é em outro alvo. Ele aposta, de forma geral, em papéis de empresas de primeira linha ligadas ou não ao setor externo. Ao evitar distinções, Martins argumenta que os fundamentos das companhias nacionais não foram afetados pelo nervosismo das últimas semanas no mercado financeiro.

— Foram os papéis que mais sofreram desvalorização e, por isso, oferecem agora as melhores oportunidades — diz ele, que elege os setores financeiro, petroquímico, de mineração e siderúrgico.

Antes da decisão do Fed na semana passada, os tempos foram bicudos para investidores em bolsa. O maior receio era de que o banco americano aumentasse ainda mais o ritmo de elevação dos juros, numa tentativa de controlar a escalada de preços, o que atingiria o desempenho das empresas. Isso fez com que os grandes investidores estrangeiros (fundos de pensão) adotassem posição defensiva, vendendo os papéis com maior liquidez em mercados emergentes como o Brasil, para buscar a proteção dos títulos americanos.

Esse movimento de fuga teve início em 9 de maio, véspera da reunião anterior do Fed. Uma compilação da Modal Asset mostra quedas de quase 20% em vários setores da bolsa paulista (em que os investidores estrangeiros respondem por cerca de 40% das operações) entre aquele dia 9 e o pregão da última quinta-feira. É o caso das ações dos segmentos de consumo e varejo (-18,1%) e bancos (-17,9%). Já nos setores de mineração, petróleo e petroquímico, a queda em média oscilou entre 11% e 12%, em comparação a um recuo de 13,1% do Ibovespa.

Responsável pela área de pesquisas da corretora Ágora Senior, Marco Melo trabalha com os papéis que prometem oferecer a melhor relação de dividendos. Em sua cesta estão ações como Eternit, Confab, Usiminas e CSN. Ele também destaca o fato de a turbulência financeira nas bolsas não ter afetado diretamente o lado real das empresas, que continuam a indicar bons resultados.

Para uma amostra de ações de 12 setores diferentes, correspondendo a 95% do Ibovespa, Melo estima que o lucro líquido das empresas brasileiras aumente entre 15% e 20% neste ano em relação a 2005:

— É um número bem acima da média projetada para as companhias abertas de outros países emergentes, de 5% a 10%.

O otimismo da semana passada não significa o fim da volatilidade. Depois de subir os juros em mais 0,25 ponto percentual, para 5,25% ao ano, o Fed disse que “qualquer aperto (monetário) adicional” vai depender dos próximos indicadores de inflação e variação do Produto Interno Bruto (PIB) americano. Para os analistas, não haveria razão para o Fed mexer outra vez nas taxas de juros. A bola está agora com o presidente do Fed, Ben Bernanke.

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